Minha História de Michelle Obama

PARA RELAXAR

Por Paloma Salles

Lançada em 2018 pela Editora Objetiva, Minha História é a autobiografia de Michelle Obama, a ex-primeira-dama dos EUA. A partir de seu relato, vamos a conhecendo como sua pessoa, como foi sua infância, sua formação em Princeton e Harvard, seu trabalho na firma de advocacia Sidley & Austin (onde conheceu Barack Obama), sua vida pública como esposa de um político até chegar aos seus anos na Casa Branca.

Michelle nos mostra que sempre foi a primeira em muitas ocasiões. Tendo estudado em universidades de elite, normalmente era a única mulher. Ser negra, nestes círculos, era muito mais incomum na época. Apesar de ter uma infância pobre, ela aprendeu a batalhar e dar a volta por cima. Trabalhou em empresas de renome e teve uma carreira bem-sucedida, soube equilibrar sua vida familiar com duas filhas com a de esposa de um político. E mais tarde, revela como lidou com a pressão de ser a primeira família negra a ocupar a Casa Branca.

Em seu relato, vamos tendo também a noção de como a misoginia está infiltrada na política. Percebemos como Michele teve que se adaptar para não ser vista como “agressiva” apenas por ser uma mulher forte e decidida e como foi capaz de ir levando seus projetos para frente sem se submeter apenas ao papel da esposa decorativa.

Como curiosidade, é legal saber como é, de fato, o funcionamento da Casa Branca, como eles realmente vivem no dia a dia lá. Além de conhecer um pouco, todas as vantagens e desvantagens que o cargo de primeira-dama traz.

O relato de Michelle é, de diversas maneiras, muito inspirador. Ela nos mostra que sabe como é ser invisível dentro da realidade predominantemente de homens brancos. E não só isso, como primeira-dama, ela expõe suas ações e projetos que fazem a diferença na vida de pessoas sem privilégios. Ela apresenta sua humanidade ao levar esperança e trazer a diversidade à tona. Não tem como não admirar essa mulher forte, batalhadora e ética.

Vale muito a pena conhecer e se emocionar com sua história de vida. Um exemplo de otimismo e esperança a ser seguido.

 

Vox de Christina Dalcher

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Por Paloma Salles

Vox já merece uma leitura mais atenta só por parecer uma recriação do “Conto da Aia” nos dias atuais. (Quem não conhece o romance de Margareth Atwood, leia a nossa resenha aqui).

O governo totalitário e fundamentalista religioso dos Estados Unidos implementou há pouco tempo o uso de pulseiras em todas as mulheres (desde crianças elas já ganham a pulseira). Essas pulseiras controlam a quantidade de palavras ditas por elas, o total permitido é de 100 palavras em um dia. Se esse total de palavras for ultrapassado, a mulher recebe um choque violento. E cada vez que ela violar esta regra, o choque será mais forte.

A partir desse decreto, uma série de proibições entram em vigor como a de que as mulheres não podem mais trabalhar, ter dinheiro próprio (algum parente masculino próximo deve cuidar dela e, se a mulher em questão não tiver ninguém, ou ela se casa ou vai para um bordel), ler, entre outras coisas.

A escola para meninas agora se resume a ensinar aritmética simples, pois, de acordo com as novas medidas, elas só precisam saber fazer compras, cuidar da casa e ser esposas dedicadas. O governo acredita que as mulheres devem permanecer no lar cuidando da família, enquanto que os homens devem ser os provedores. Para essas tarefas, elas não precisam de voz.

Mas não só as mulheres são oprimidas por esse sistema. Os homossexuais, por exemplo, devem se adaptar a essa nova realidade ou serão encarcerados juntos com alguém do outro sexo para serem convertidos. Assim, muitos gays acabam se casando com lésbicas para se enquadrarem e serem deixados em paz.

Através do dia a dia da Dra Jean McClellan, vamos conhecendo como é essa nova realidade. Antes era uma respeitada cientista neurolinguística, agora Jean é relegada ao papel de dona de casa, que cuida do marido e de seus quatro filhos.

Percebemos como é a nova dinâmica na família em situações do cotidiano, como em uma conversa banal durante o jantar, em que seus filhos e seu marido conversam normalmente sobre a escola, enquanto que ela e sua filha Sonia não desperdiçam nenhuma palavra. Para Jean, cada palavra deve ser pensada e refletida antes de ser dita. O ideal é fazer perguntas diretas que exigem apenas uma confirmação ou negação com a cabeça.

A partir do momento em que a ajuda profissional de Jean é necessária e ela precisa voltar a trabalhar, a rotina da família muda. Então ela vê que pode barganhar algumas coisas e lutar por ter sua vida de volta.

A narrativa de Christina Dalcher é muito envolvente e, à medida que a leitura avança, vamos sentindo angústia pelo destino dessas mulheres. Não tem como não ficar aterrorizada ao imaginar esse cenário.

 

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Como seria ficar com apenas 100 palavras por dia? É só fazer um teste em um dia comum e verificar quantas palavras você diz por dia para ver a dimensão que uma realidade destas teria em sua vida.

E em alguns momentos, não tem como não odiarmos pelo menos um pouco os homens da família de Jean, por eles terem toda a liberdade para se expressar e não fazerem nada para ajudá-las.

O livro estava indo muito bem até que a partir do meio do livro começaram muitas reviravoltas e a trama ficou muito frenética. Parece que ficou tudo meio jogado e a autora quis resolver muitas questões tudo de uma vez e como não conseguiu, terminou de qualquer jeito. Para quem estava super empolgada com o livro, como eu, isso foi um balde de água fria.

Outro ponto problemático foi a questão amorosa de Jean, o final pareceu ligeiramente machista e previsível. Apesar destes pontos negativos, recomendo o livro porque há muitas reflexões que Vox traz à tona.

Frases

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Uma das frases de As alegrias da maternidade. (Foto: Florence Onyebuchi “Buchi” Emecheta)

O romance de Buchi Emecheta conta a trajetória de Nnu Ego, uma jovem igbo, filha de um grande líder africano. Por causa de um casamento arranjado, Nnu Ego parte de sua pequena aldeia, Ibuza, rumo a capital da Nigéria. Para tornar-se uma “mulher completa”, isto é, ser esposa e mãe, a jovem enfrentará vários percalços, viverá uma vida de privações e terá que confrontar com uma realidade diferente da cultura de seu povo.

Embora tenha mais de 20 obras publicadas, a escritora nigeriana tornou-se conhecida do grande público brasileiro apenas no ano passado com a publicação do romance “As alegrias da maternidade”, uma parceria entre a Editora Dublinense e a TAG, clube de assinatura de livros. Emecheta aborda em suas obras não só a vida de mulheres negras mas também os conflitos vividos em seu país e denuncia a violenta opressão patriarcal e colonial a que seu povo foi submetido ao longo do tempo.

 

 

Sapiens – Uma Breve História da Humanidade

Sapiens

Por Paloma Salles

Doutor em história pela Universidade de Oxford e professor do departamento de História da Universidade Hebraica de Jerusalém, Yuval Noah Harari aborda em Sapiens a história da humanidade sob uma perspectiva inovadora. O autor nos oferece não apenas conhecimento evolutivo, mas também sociológico, antropológico e até mesmo econômico. Ele se baseia nas mais recentes descobertas de diferentes campos como paleontologia, biologia e antropologia.

O livro é dividido em quatro partes: A Revolução Cognitiva, A Revolução Agrícola, A unificação da humanidade e A Revolução Científica. E em cada uma delas vamos entendendo como o Homo Sapiens foi capaz de subjugar as demais espécies. Segundo o autor, isso foi possível graças à nossa capacidade imaginativa, porque somos a única espécie que acredita em coisas que não existem na natureza, como Estados, dinheiro e direitos humanos.

Sapiens é um livro para se ler com a mente aberta, já que o autor traz diversas ideias que à primeira vista não são intuitivas e que podem ser até polêmicas, como é o caso quando ele explica que o capitalismo é a mais bem-sucedida religião. Além disso, Yuval coloca algumas reflexões interessantes sobre as vantagens e desvantagens de todas essas revoluções que o Homo Sapiens passou.

O livro é ótimo. Bem escrito, a leitura é fluida e acessível, e a quantidade de informação contida nele é impressionante. Não por acaso o livro entrou nas listas dos mais vendidos de 40 países para os quais foi traduzido. Vale muito a pena!

Para conhecer mais sobre as ideias de Yuval, assista à palestra abaixo:

Todos os Contos de Clarice Lispector

Clarice II

Por Paloma Salles

Nesta coletânea, que reúne pela primeira vez todos os contos da autora num único volume, é possível conhecer Clarice por inteiro, desde os primeiros escritos, ainda na adolescência, até as últimas linhas.

Todos os contos, obra organizada pelo biógrafo Benjamin Moser, foi lançada nos Estados Unidos em 2015 e incluída na lista dos melhores livros do ano do prestigioso jornal The New York Times. O livro chegou ao Brasil no ano seguinte pela Editora Rocco em uma edição capa dura caprichada contendo mais de 600 páginas.

Os contos em questão vão mostrando o desenvolvimento da autora de sua juventude até a maturidade. O interessante é que Clarice traz vários questionamentos feministas e atuais mesmo nos contos escritos quando era jovem.

São histórias simples, aparentemente banais, do dia-a-dia de uma pessoa (ou até de uma galinha em um dos casos) que trazem uma profunda reflexão. Como é o caso do conto Amor em que Ana, uma dona de casa e mãe de família, repensa toda sua vida depois de se deparar com um cego mascando chiclete.

Clarice é uma das escritoras mais importantes do século XX e o fato de ter alcançado essa fama mesmo sendo mulher na sociedade machista da época só ressalta ainda mais o valor de seu trabalho.

Apesar do tamanho do livro assustar um pouco, a leitura é bem fluida. Você termina de ler o livro sem se dar conta de tão bom que ele é.

Por ser mais acessível do que seus romances mais consagrados, recomendo esta coletânea não só para quem quer se iniciar nas obras de Clarice, mas também para aqueles que já a conhecem e a admiram.

O segredo dos corpos de Dr. Vincent Di Maio e Ron Franscell

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Por Paloma Salles

Através da história de vida de Dr. Vincent Di Maio e das mais de 9 mil autópsias que ele realizou, vamos conhecendo como funciona a misteriosa área da patologia forense.

Em 40 anos de profissão, ele teve um papel importante em algumas famosas investigações criminais como a exumação de Lee Harvey Oswald (o suposto assassino do presidente Kennedy), a tese de que Van Gogh não cometeu suicídio e o desmascaramento de Martha Woods, a assassina em série de bebês.

 

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Ademais vamos conhecendo como é a participação desses especialistas nos julgamentos. Segundo Di Maio, a verdadeira missão dos médicos legistas é descobrir a verdade e não o favorecimento da defesa ou da promotoria.

A edição da Darkside como sempre é bem caprichada e linda para se ter na estante. Ela tem capa dura e traz uma capa de encher os olhos. Além disso, tem diversas ilustrações sobre as investigações.

 

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A narrativa é bem interessante e para quem tem curiosidade em descobrir o que realmente acontece em uma autópsia, o livro é um prato cheio de informações.

Aviso: o conteúdo do livro é violento e não indicado para menores de 18 anos ou pessoas sensíveis ao tema.

 

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Confissões do Crematório: Lições Para Toda a Vida de Caitlin Doughty

Confissões do Crematório

Por Paloma Salles

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Caitlin  Doughty é agente funerária, escritora e mantém um canal no YouTube onde fala com bom humor sobre a morte e as práticas da indústria funerária. É criadora da websérie “Ask a Mortician” e fundadora do grupo “The Order of the Good Death” (que une profissionais, acadêmicos e artistas para falar sobre a mortalidade).

 

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Caitlin  Doughty

Em Confissões do Crematório: Lições Para Toda a Vida, a autora nos conta o dia a dia de um crematório e outras particularidades desta indústria. Aliás, um relato muito interessante sobre a indústria funerária. A partir disso, faz várias reflexões sobre a morte e como a sociedade atual de maneira não natural foge desses questionamentos.

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Ao ler este livro me lembrei bastante de “A sete palmos”, uma série muito bem feita que conta sobre o dia a dia de uma família dona de uma funerária. A série era engraçada e reflexiva ao mesmo tempo, assim como o livro de Caitlin. A autora soube dosar um assunto um pouco macabro com bom humor.

Além disso, a obra traz outras questões pertinentes como a mentira do “final feliz” que geralmente é passado para as crianças, o que acaba sendo muito mais prejudicial do que contar sobre como a morte e o amor realmente funcionam.

Vale a pena ler e refletir!

A montanha mágica de Thomas Mann

 

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Por Paloma Salles

Considerada a obra-prima do celebrado escritor alemão Thomas Mann, A montanha mágica conta a história do jovem Hans Castorp que se vê desviado de uma previsível carreira na construção naval ao internar-se em um sanatório para tuberculosos nos Alpes suíços. Durante a inesperada estadia, Hans relaciona-se com uma miríade de personagens enfermos que encarnam os conflitos espirituais e ideológicos que antecedem a Primeira Guerra Mundial.

A obra foi publicada apenas em 1924, porém o escritor começou a escrevê-la antes da Primeira Guerra. No período entre guerras, Thomas Mann fez várias reflexões sobre o conflito e colocou essas ideias no livro.

 

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Hans vai visitar seu primo Joachim que está enfermo no sanatório Berghof por três semanas. Lá acaba sendo diagnosticado com tuberculose, também é internado e prolonga sua estadia até que melhore. Juntamente com Hans e Joachim, somos apresentados a vários personagens interessantes como o humanista Lodovico Settembrini, o jesuíta totalitário Leo Naphta, o interesse amoroso Clawdia Chauchat e o hedonista Mynheer Peeperkorn.

O livro faz várias reflexões filosóficas sobre a morte, o tempo, o amor, o progresso, entre outras grandes questões colocadas através da interação desses personagens, principalmente pelo embate de ideias entre Settembrini e Naphta.

A montanha mágica é considerada um romance de formação. Bildungsroman, em alemão, designa o tipo de romance em que é exposto o processo de desenvolvimento físico, moral, psicológico, estético, social ou político de um personagem, geralmente desde sua infância ou adolescência até um estado de maior maturidade. Através de Hans, o autor vai nos transformando ao longo da narrativa e expondo suas reflexões sobre a vida.

 

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A Montanha Mágica

 

Traduzido por Herbert Caro e revisto por Paulo Astor Soethe, essa primeira reimpressão pela Companhia das Letras, traz uma edição da obra em capa dura com mais de 800 páginas para digerir. Apesar de extenso, a leitura é fluida e prazerosa (o único problema é transportar o livro!).

Um livro espetacular que deve ser lido e relido para melhor compreender a obra em toda sua extensão.

O jogador nº 1 de Ernest Cline

O jogador nº 1

 

Por Paloma Salles

No ano de 2045, para fugir de uma realidade cinza e miserável, as pessoas passam a “viver” na plataforma Oasis, uma realidade virtual que permite que elas mudem sua aparência e sejam quem elas quiserem. Com a morte do fundador da Oasis, inicia-se uma busca frenética por pistas deixadas por ele dentro do programa, porque quem achá-las herdará toda a sua fortuna.

Para quem gosta da cultura nerd e viveu nos anos 80, o livro é extremamente divertido e recheado de referências à cultura pop dessa época. A trama do livro é muito rica e faz você imaginar várias fantasias suas de infância virando realidade, como a de estar na pele de um personagem de um filme que você adora, por exemplo.

Mas o livro não é simplesmente isso. A história apresenta muita crítica social, como ao abordar o consumismo desenfreado e até mesmo levanta a questão da identidade de gênero, já que algumas mulheres acabam criando avatares masculinos na Oasis para serem melhor aceitas na plataforma.

Embora tenha uma história mais voltada para o público juvenil, o apelo dos anos 80 é muito forte para ser ignorado. Então se você curte a época ou é nerd aproveite e divirta-se com o livro!

Quem quiser conhecer o filme pode ver o trailer abaixo:

 

O Evangelho segundo Jesus Cristo de José Saramago

O Evangelho XI

 

Por Paloma Salles

Escrito em 1991 pelo escritor português José Saramago, um ateu declarado, O Evangelho Segundo Jesus Cristo narra a trajetória de Jesus. É considerado um dos livros mais controversos de seu autor por propor uma visão diferente da história escrita na Bíblia.

O Evangelho IX

José Saramago

No romance, além da história de alguns personagens bíblicos conhecidos, acompanhamos a vida de Jesus desde a sua concepção até sua crucificação. A narrativa é contada de maneira linear e, até certo ponto, fiel à Bíblia, sendo acrescentadas passagens e omitida outras. De acordo com a visão de Saramago, Jesus, assim como todos os homens, tinha desejos carnais e fez de Maria de Madalena sua companheira.

O livro é cheio de ironia e humor. Mostra, de maneira natural, o preconceito contra as mulheres, relegadas à condição de seres inferiores.

O Evangelho V

O melhor momento do livro, no entanto é a conversa entre Jesus, Deus e o Diabo, em que algumas pessoas podem ficar incomodadas com o discurso apresentado, porque quem acaba sendo ético e razoável é o Diabo e não Deus.

O Evangelho VI

Um livro espetacular para todos aqueles que quiserem ser desafiados intelectualmente. Se você ainda não conhece o autor, vale a pena começar por esta obra.