O conto da aia de Margaret Atwood

O conto da aia II

Por Paloma Salles

O conto da aia

Num futuro não muito distante, Offred, a protagonista de O conto da aia, nos conta como é sua vida atual na República de Gilead, Estado teocrático e opressor que assumiu o poder no antigo Estados Unidos da América. Ela intercala o relato do momento presente com fragmentos de sua vida no passado, antes de surgir esse Estado, que tirou o poder dos indivíduos, principalmente, das mulheres e as relegou às esferas domésticas.

Depois de muitas guerras e com a queda drástica na taxa de fertilidade, ter um filho virou uma questão de poder ainda mais numa sociedade dominada pela religião como Gilead. De acordo com suas leis, as mulheres eram, basicamente, propriedades dos homens e, por isso, não poderiam fazer nada sem o consentimento deles. Dessa maneira, elas não tinham seus direitos respeitados, não poderiam dar opiniões, demonstrar sentimentos e sequer ler.

Nesta nova estrutura social, as mulheres se dividiam em: Aia (mulher fértil cuja principal função era servir a família que a pertencia, dando um filho ao casal), Esposa (mulher casada com homem de alta posição social, a maioria delas não podia ter filhos), Martha (mulher que não podia ter filhos e que servia de empregada doméstica nas casas dos comandantes), Econoesposa (esposa de classe inferior), Tia (mulher mais velha e religiosa que cuidava da educação das Aias) e Não-Mulher (mulher que não se submeteu a nenhum desses papéis e viveu em colônias marginais).

As Aias recebiam os nomes de acordo com os nomes de seus comandantes, homens de alta posição social. Se uma delas, por algum motivo, tivesse que mudar de comandante, seu nome também mudaria. O nome Offred significava que pertencia ao Fred (Of Fred). Portanto, ter uma Aia representava ter um alto status nessa sociedade.

Nas restritas leis de Gilead, as Aias deveriam, simplesmente, servir e procriar. Seus nomes não lhes pertenciam, elas não tinham posses materiais e seus corpos estavam à disposição do Estado. Elas eram estupradas pelos comandantes continuamente e, caso não se sujeitassem, poderiam sofrer uma penalidade mais alta e virar uma Não-Mulher. Ainda que estivessem em uma posição mais privilegiada, as Esposas só ocupavam uma posição figurativa na sociedade.

O livro é pesado e desconfortável. Há muitos momentos que servem como gatilho para pessoas mais sensíveis. E justamente por ser um futuro possível, o romance nos dá medo. Basta observarmos o que já aconteceu e ainda acontece em vários lugares no mundo, onde mulheres foram oprimidas em nome da religião, como o Irã pós-Revolução Islâmica e o Estado Islâmico, que permite o estupro e impõe o uso da burca. Na verdade, não precisamos ir tão longe, é só ver a realidade do Brasil, que conta com uma média de 12 assassinatos de mulheres e 135 estupros por dia. Como não acreditar que um livro escrito em 1985 tenha tanta proximidade com a realidade atual?

Vale muito a pena ler esse romance! Para todas as mulheres lerem e entenderem o porquê temos que nos unir.

Para conhecer a série veja o trailer abaixo:

 

2 comentários sobre “O conto da aia de Margaret Atwood

  1. livros&rezenhas disse:

    Que relato tocante! Me fez ter uma vontade enorme de ler esse livro, já vi muitas opiniões sobre esse livro, mas o que você escreveu! Simplesmente quero ler esse livro agora! Meus parabéns!

    Curtido por 1 pessoa

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